Folha de São Paulo
É a abertura da economia que vai intensificar o intercâmbio comercial e cultural do Brasil com o mundo
presidente Donald Trump dá a trabalhadores do setor siderúrgico canetas que usou para assinar a sobretaxa ao aço –
A decisão do governo americano de impor sobretaxas às importações de aço e alumínio, 25% e 10%, respectivamente, representou mais uma ameaça às normas que regem o comércio internacional, responsáveis pelo vigor que a globalização adquiriu nas últimas décadas.
As medidas são um flagrante desafio às diretrizes da OMC (Organização Mundial do Comércio) e aprofundam o rumo protecionista defendido por Donald Trump durante a campanha eleitoral de 2016.
A despeito dos obstáculos erguidos nos últimos meses, a globalização precisa seguir seu curso, sobretudo pelos bons resultados colhidos pela economia global e, em particular, pelos países emergentes, processo do qual, infelizmente, o Brasil não participou, optando pelo isolamento.
Da mesma forma, no âmbito interno de nossa economia, os movimentos de Trump não podem servir de justificativa para que as vozes do atraso relancem ao público o discurso protecionista verbalizado pelos lobbies de sempre.
Não é de hoje que o Brasil empurra para um futuro indeterminado a necessária abertura comercial, afastando-se, a cada adiamento, dos benefícios provenientes de uma relação mais estreita com o mundo.
Vínculos mais profundos com outras economias permitiriam ao país estabelecer bases sólidas para o crescimento, reduzindo os custos em geral, elevando a produtividade e estimulando o progresso tecnológico —criando, enfim, um marco de referência para o desenvolvimento, com aumento da renda da população e redução das desigualdades sociais.
Relatório divulgado na semana passada pela OCDE estima os impactos positivos decorrentes do aprofundamento da implantação das reformas na economia: o PIB registraria expansão adicional de 21% ao longo de 15 anos, ou 1,5 ponto percentual de acréscimo ao crescimento anual. A redução de barreiras ao comércio contribuiria, sozinha, com oito pontos percentuais desse total.
Para colocar em movimento esse processo virtuoso, há um antecedente: desatar os nós do emaranhado de tarifas de importação e definir um cronograma razoável para aproximar as alíquotas brasileiras dos padrões internacionais. Deve haver um prazo para essa migração, mas não muito longo para evitar a procrastinação das decisões empresariais necessárias ao sucesso dessa iniciativa.
A velocidade seria maior para setores que tenham potencial de replicar a redução de custos e difundir novas tecnologias para toda a economia. O Brasil poderia ainda acelerar os acordos comerciais ora em andamento e buscar novas parcerias.
Para quem acha que o mundo está parado diante do movimento protecionista, segue uma notícia: nesta quinta-feira (8), 11 países, representando um mercado de quase 500 milhões de pessoas, assinaram o agora chamado CPTPP, o antigo Tratado Transpacífico liderado num primeiro momento pelos Estados Unidos e depois, com a ascensão de Trump, abandonado pelo país. A integração a esse acordo é um exemplo das oportunidades que se abrem para o Brasil.
A abertura comercial é um bem em si mesmo, pois remove barreiras e fronteiras, descortinando janelas para o Brasil intensificar o intercâmbio econômico e cultural com outros países. Esse é um elemento fundamental para extrair ganhos de produtividade essenciais para a modernização da economia e o avanço nas relações sociais, sobretudo a redução da desigualdade e a valorização dos direitos individuais. A alternativa é permanecermos na triste condição de reféns do atraso.