Valor Econômico
A qualidade da educação no Brasil é ruim também em comparações internacionais. Em 2015, o Brasil ficou na 65ª posição entre os 70 países avaliados em ciências no exame do Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE. E esse desempenho não tem melhorado. Por que será que nossos alunos vão tão mal no Pisa?
Vários fatores influenciam o desempenho dos alunos em provas. O principal deles é, obviamente, o conhecimento. Mas, além disso, saber como fazer cada tipo de prova e ter motivação para fazê-la são muito importantes também. A motivação pode ser “interior”, que vem de dentro do aluno, ou “exterior”, se a prova vale nota, por exemplo. E motivação é muito importante também para vários outros aspectos da vida.
Um aspecto interessante da prova do Pisa é que em 2015 as provas foram realizadas em computadores e os alunos tinham que responder as questões de forma sequencial, ou seja, uma vez finalizada a questão eles não poderiam retornar a ela. Além disso, a posição de cada questão na prova foi sorteada, ou seja, as questões não ficam mais difíceis ao longo da prova. Assim, uma eventual queda do desempenho ao longo de uma prova reflete a ação de outros fatores, tais como cansaço e falta de persistência, concentração e determinação. Ao mesmo tempo, a probabilidade de acertar a primeira questão do exame é uma medida mais “pura” do real conhecimento do aluno.
Um estudo recente mostra que nossos alunos vão mal nos quesitos conhecimento e persistência. Somente 40% dos nossos alunos acertam as primeiras questões da prova, ao passo que na Finlândia e Coreia essa taxa é de 60%. Além disso, os alunos brasileiros são os que têm uma das maiores taxas de decaimento ao longo da prova, ou seja, a probabilidade de responder corretamente às questões vai se reduzindo rapidamente ao longo da prova.
A figura ao lado, por exemplo, mostra que a distância entre alunos brasileiros e os finlandeses e coreanos vai aumentando claramente ao longo da prova. No meio da prova, após 1 hora, o Pisa recomenda fazer um intervalo. Logo após esse intervalo, o desempenho dos brasileiros se recupera. Mas, logo em seguida, a taxa de acertos começa a declinar novamente. Porque será que isso acontece? O que pode explicar esse padrão?
Os resultados dos computadores mostram que grande parte dos alunos brasileiros nem sequer chega ao fim da prova. Cerca de 60% dos alunos brasileiros não chega nem a olhar as últimas questões da primeira parte da prova, ao passo que isso ocorre com somente 6% dos alunos finlandeses e 18% dos alunos colombianos.
Os computadores mostram também que os jovens brasileiros ficam muito tempo parados nas primeiras questões da prova. Enquanto os alunos brasileiros ficam em média 2,5 minutos nas questões iniciais, os coreanos gastam apenas 1 minuto. Os piores alunos brasileiros chegam a ficar 9 minutos parados nas primeiras questões, ou seja, precisariam de 12 horas para fazer a prova, ao invés das 2 horas alocadas.
Isso pode ocorrer por vários motivos. Pode ser que os brasileiros demorem mais para entender o enunciado da questão e para desenvolver o raciocínio sobre a resposta. Ou, pode ser que não queiram fazer a prova e fiquem parados com o computador aberto na questão, esperando o tempo passar.
Nossa hipótese é que o decaimento dos alunos brasileiros está relacionado à sua baixa motivação para fazer a prova, já que um bom desempenho no Pisa não traz resultados imediatos para o aluno. Assim, os alunos brasileiros não estariam levando a prova a sério, ao passo que para os coreanos toda prova é um desafio a ser superado. Além disso, pode ser que os alunos brasileiros tenham baixa resiliência, ou seja, ao perceberem que não estão entendendo as primeiras questões, já desistem do resto da prova.
Isso é muito ruim porque grande parte do sucesso na vida depende da superação das adversidades. Esse comportamento dos brasileiros pode estar refletindo a falta de estímulos e de curiosidade que foi sendo construída desde os primeiros meses de vida, por falta de interações com os pais, por exemplo.
Vale notar que o decaimento ao longo da prova não é o principal fator explicativo para a baixa posição do Brasil no Pisa. Se não houvesse o decaimento, o Brasil ainda estaria na posição 57, superando 8 países com relação ao resultado atual. Assim, o mau desempenho brasileiro no Pisa está mais relacionado com o baixo aprendizado nas nossas escolas mesmo. A falta de motivação para fazer a prova é apenas a “cereja no bolo” que piora o resultado ainda mais.
Estudos recentes mostram que tanto o conhecimento como a motivação dos alunos demonstrados no Pisa são muito importantes para o crescimento econômico dos países. Assim, não é à toa que a produtividade está estagnada há 20 anos no Brasil. E se não agirmos rapidamente, vamos perder também os próximos 20.
*1- Por que o Brasil vai Mal no Pisa?” de Sassaki, Pietra, Menezes Filho e Komatsu.
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.