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Votos de alto risco

Folha de São Paulo


Nem intervencionismo estatal nem desrespeito à democracia resolverão problemas

As soluções para os problemas do país não serão encaminhadas de forma adequada se, levada por saudosismos ou devaneios autoritários, a sociedade eleger projetos passadistas comprovadamente fracassados, que deixaram graves sequelas e deram sobrevida a antigas mazelas econômicas e sociais.

O mais grave é que pode não haver outra chance tão cedo, dada a profundidade de nosso atraso.

É preciso rejeitar pelo voto o gigantismo estatal, que promoveu brutal desequilíbrio das contas públicas e franqueou a corrupção como método de aliciamento político.

Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) estão à frente nas pesquisa de intenção de foto – Folhapress


Com igual intensidade, o país não deve aceitar propostas descompromissadas com os princípios democráticos e as liberdades individuais —com o Estado de direito, enfim.

É esse passadismo preocupante —pois não renegado explicitamente e até cultivado— que distingue as duas candidaturas atualmente à frente da corrida presidencial.

Ambas as correntes mostram desprezo pelas instituições, tais como desacatar decisões do Judiciário para livrar seu líder maior, num caso, ou apresentar as Forças Armadas como tábua de salvação para todos os problemas, até mesmo na educação, no outro.

Não vislumbro em nenhum dos dois caminhos os elementos necessários para conduzir o Brasil na direção do progresso econômico, cultural e social.

As propostas econômicas de tais candidatos revelam um misto de superficialidade e ausência de viabilidade.

Tome-se a questão do tamanho do Estado, pivô do enrosco fiscal em que estamos.

Jair Bolsonaro acena com privatizações em prazo curto, alheio à complexidade de um plano desse porte. Os valores soam mirabolantes. Segundo seus assessores, a privatização renderia R$ 1 trilhão.

Analistas experientes no ofício desconfiam dessa avaliação por quaisquer dos critérios usualmente usados.

Também parece pouco crível a possibilidade de se zerar o déficit público em um reduzido período de tempo, como prega o candidato.

Fernando Haddad, por sua vez, coloca nas costas da oposição e dos dois anos de governo Michel Temer o desastre que o PT impôs ao país.

Pior: sugere querer dobrar a aposta nos poderes do Estado, debilitado pela mesma crença no tempo de Dilma Rousseff. E já falou num tal de “cheque especial” para financiar obras públicas, sem explicar de onde vai tirar recursos com o Orçamento acumulando seis anos de déficit e a dívida bruta do Tesouro tendendo a 90% do PIB (Produto Interno Bruto).

Com o nível de degradação do setor público, não há nenhum espaço para mensagens mistificadoras tão presentes nos discursos de ambos os candidatos.

Se a confiança é ingrediente central para a recuperação do país, lamento informar que estamos desconfiados.

Faltam propostas exequíveis para cortar as ervas daninhas que sugam as energias do país –de tarifas protecionistas, que geram grupos econômicos acomodados, ao matagal tributário, que sufoca a produtividade.

A deterioração do Estado requer um Executivo com capacidade de gestão e de negociação em ambientes hostis — atributos essenciais para rever, ou sustar, privilégios concedidos a grupos empresariais, enfrentar corporações e reequilibrar os interesses regionais.

Aí está a origem de boa parte das distorções que minam a saúde financeira do Estado.

Em pouco mais de duas semanas, estaremos diante das urnas. O que virá pela frente dependerá de nossas escolhas. Elas serão decisivas para resolver não apenas os problemas mais imediatos, mas também para desenhar um futuro promissor para o país.

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Pedro Passos