Não podemos deixar para trás os 12 milhões de jovens entre 15 e 29 anos da geração “nem nem”, que não estudam e não trabalham
Reset (Publicado em 14/03/2022)
Em meu último artigo, falei sobre a agenda ESG e a importância que o “S” do aspecto social terá para o Brasil nos próximos anos. Atualmente, cerca de 12 milhões de jovens entre 15 e 29 anos fazem parte da geração “nem nem”, não estudam e não trabalham.
Não podemos deixar para trás uma parte da população, sem dar a cada cidadão brasileiro a oportunidade de lutar por uma vida digna. Esse problema se apresenta de forma multifacetada e considero importante avaliar aqui dois dos muitos aspectos: educação e desenvolvimento econômico.
Durante a fase mais dura da pandemia, quando estávamos todos em quarentena, ressaltei em diversas lives de que participei: “Estamos todos na mesma tempestade, mas não estamos todos no mesmo barco”.
Sentia a necessidade de destacar a posição privilegiada que eu e as pessoas do meu convívio tínhamos. Uma das principais foi a oportunidade de realizar o trabalho e o estudo remotamente.
Essa forma de atuação não estava (e ainda não está) ao alcance de muitos brasileiros, e naquele momento de turbulência muitos perderam suas aulas e/ou a sua renda.
Para termos noção do tamanho desse impacto na educação, os resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2021 tiveram a maior queda da série histórica.
É certo que a questão do acesso a tecnologias para trabalho ou estudo remoto é ligado ao nível de educação das famílias e sua condição de renda. Com o contínuo avanço da tecnologia, que muitos chamam de 4ª revolução industrial, é fundamental lutar por uma melhor qualificação dos jovens e trabalhadores brasileiros.
Em relatório sobre o futuro do trabalho publicado recentemente, o Fórum Econômico Mundial ressaltou que a pandemia acelerou a adoção de tecnologias disruptivas e acentuou tendências. Segundo esse documento, 43% das empresas pesquisadas indicam que devem reduzir sua força de trabalho devido à integração de tecnologia.
Ou colocamos a educação e a qualificação dos trabalhadores/empreendedores como prioridade de fato para a nossa sociedade ou corremos sim o risco de deixarmos muitos para trás.
O segundo aspecto que eu gostaria de analisar é a oportunidade que a inclusão social dessa população representa para diversas empresas no país.
Abro um pequeno parênteses aqui para explicar um pouco sobre as possíveis alocações dos recursos financeiros. Temos o investidor tradicional que faz suas escolhas sobre a destinação dos seus recursos baseado na relação de risco e retorno. Temos o doador tradicional, pessoa física ou jurídica, que entende que parte dos seus recursos pode ir para causas filantrópicas em linha com os seus valores e crenças. Aliás, a cultura de doação está crescendo no Brasil. Em um país tão carente de recursos como é o nosso, é uma destinação muito bem-vinda.
E, recentemente, uma terceira categoria está se tornando cada vez mais comum, o investidor de impacto. Nesse tipo de investimento, há um retorno financeiro ao mesmo tempo que aquela empresa investida tem um impacto positivo como parte fundamental do seu modelo de negócios. Impacto esse que pode ser ambiental ou sociocultural.
São empresas que entenderam que podem ter um bom desempenho econômico, oferecendo um serviço de qualidade para as classes C, D e E, ou focando numa questão ambiental. Já são muitos os exemplos de empresas que cresceram adotando esse modelo.
Para ficar na minha seara de conhecimento, posso citar a democratização dos meios de pagamento e inclusão bancária, com acesso digital a contas correntes, cartões de crédito, máquinas de cartão. Além do impacto financeiro propriamente dito, significa dar mais cidadania para uma parcela importante da população.
Cabe ressaltar que esses papéis não são excludentes entre si. Cada um pode formar o seu portfólio de investimentos e doações da forma que lhe convém.
Finalizo lembrando que, se queremos uma sociedade mais inclusiva, precisamos investir em educação e valorizar a contribuição das empresas no desenvolvimento social. Não podemos ignorar os que estão ficando para trás. Não dá para ir bem, indefinidamente, num país que vai mal.
Link da publicação: https://www.capitalreset.com/colunas/na-mesma-tempestade-mas-nao-no-mesmo-barco/?utm_campaign=140322_-_fabio_barbosa_coluna3&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.